domingo, 2 de outubro de 2011

Lembranças...



Sofia tinha medo do passado. Achava que tudo que estava acontecendo poderia ser desfeito a qualquer momento só porque existia algo mal resolvido em suas lembranças. É aceitável esta situação. Mas ela ficara estranha toda vez que os seus pensamentos retornavam ao mundo que só ela conhecia. Colocar pra fora seria impossível, mas ao mesmo tempo não resistira e cuspia tudo que estava entalado em sua garganta. Foi o auge da conversa... e de repente um silêncio se fez o maior som do ambiente. E nada mais importava... Agora é só esperar por um novo dia. Este sim, seria diferente! Assim ela acreditava... 

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Sensações...


Porque música é o som que sai da alma... é aquilo que a gente cospe sem pudor. É a arte de assumir viver uma coisa instantânea, que por mais externamente que pareça ser, nos remete a introspecção dos nossos sentimentos e a exposição dos nossos gestos, faces e facetas... (Warney Oliveira)

sábado, 9 de julho de 2011

A Metamorfose da Alma


Agora é dia. O sol brilha em minh'alma, trazendo o seu brilho que é refletido através do meu olhar. Dentro de mim existe um dia ensolarado e chuvoso, que molha os meus pensamentos e aquece o meu coração. A chuva traz um frio... frio sombrio e triste. O sol escureceu, mas tenho a certeza que jamais se apagará por completo. Entre essas inconstâncias do clima exite a metamorfose da alma, que nos transforma diariamente em seres humanos.

O Asfalto


Ainda não entendo a dureza deste asfalto,
Onde pegadas não ousarei deixar.
Nunca entendi o porque deste asfalto,
Tão forte! Nenhuma flor poderei plantar.

Não encontro a graça desta beleza urbana.
Eu gosto de ver as flores brotarem do solo!
Qual a graça deste tapete seco, liso?
É o cheiro da terra molhada que me faz cantar!

Nunca entendi o porque deste asfalto,
Onde pegadas não poderei deixar.
Ainda não entendo a dureza deste asfalto.
Deixarei minhas pegadas em outro lugar.

domingo, 20 de março de 2011

"Ovo de Óleo" por Sandy.

Confira a crônica "Ovo de Óleo", publicada na Veja Campinas em 2010/2011.

Sandy

O que havia de errado com a receita das rosquinhas de coco, que não ficavam iguais às de Bernadete? A menina de 10 anos, tomada de frustração, tentava decifrar o enigma. Durante suas férias no campo, ela observara atentamente, do degrau entre a cozinha e a sala, a mulher que preparava as rosquinhas mais macias e gostosas que ela já provara. De volta a sua casa, tentava reproduzir o feito. Sem sucesso.

Seria a falta do “ovo caipira”? As marcas de farinha disponíveis em Campinas seriam diferentes das de lá? Seria, talvez, a falta da mão confiante e experiente de Bernadete? Ou teria a mulher passado a mágica receita erradamente? Não, ela era atenciosa e bondosa demais para fazer algo do tipo.

É, talvez fosse mesmo a falta daquele ingrediente que ela não conseguia entender... “Cinco meias cascas de ovo de óleo.” O que seria um “ovo de óleo”? Na dúvida, pegava apenas cinco ovos “normais” e, um a um, ia acrescentando à massa somente o que cabia na metade da casca de cada um. E a massa ficava sempre ressecada, rígida, que droga!
Depois de duas tentativas fracassadas, a pequena, finalmente, venceu a vergonha de sua possível ignorância e perguntou à mãe o que seria o “ovo de óleo”. A mãe, ocupada e sem dar muita atenção à estranheza da questão — “coisas de crianças...” —, apenas disse que não existia animal algum chamado “óleo”, portanto, não teria como existir tal ovo.
Ao longo daquele ano, a menina tentou acertar a receita duas, três, cinco vezes. Desistiu. Resolveu que, nas próximas férias, pediria a Bernadete que preparasse novamente as rosquinhas, explicando-lhe detalhadamente o processo. Aí, sim, essa receita danada não mais lhe escaparia às mãos!
Passaram-se os meses e, depois de ela controlar, com muito custo, a enorme ansiedade, enfim, as férias! Foi então que veio a grande decepção: chegando à fazenda, a pequena aspirante a mestre-cuca perguntou pela “professora” e recebeu a trágica notícia de que ela havia deixado o emprego para trabalhar em outra cidade. Que tristeza, quanta falta de sorte... Parecia que aquelas rosquinhas queriam pertencer apenas a sua mestra criadora, e a mais ninguém!
Tal frustração fez com que a menina decidisse encerrar suas atividades culinárias. E “para sempre”! Era quase um sentimento de humilhação aquilo que a invadia, ao fim de tantas tentativas fracassadas. Não queria mais sentir aquilo. Mesmo sabendo da existência de outros milhares de receitas possíveis de ser executadas, o medo de não acertar e, então, sentir algo parecido a paralisava.
Sandy é cantora e compositora.
Anos se passaram e a pequena deixou de ser pequena. No alto de seus 17 anos, ela concluía, agora, o último ano de colégio. Pensando nas férias que se aproximavam, lembrou-se daquele sonho de menina interrompido por si diante da primeira dificuldade. Que bobagem! Resolveu, então, remexer um pouco nesse passado. Comprou um livro de receitas!
No ônibus escolar, na volta para casa, a jovem abriu o livro, folheou, folheou, folheou, escolheu encarar uma receita de bolo de coco. Na terceira linha de descrição dos ingredientes, ela leu “meia xícara (de chá) de açúcar”... E, depois, “uma colher (de sopa) de fermento”... E sorriu.